Cubatão

Nos 40 anos da maior tragédia de Cubatão. Ato Ecumênico será realizado na cidade em homenagem ás Vítimas da Vila Socó

A Vila Socó foi Incênciada em 24 de fevereiro de 1984 e a justiça ainda não foi feita

ícone relógio17/02/2024 às 06:00:00- atualizado em  
Nos 40 anos da maior tragédia de Cubatão. Ato Ecumênico será realizado na cidade em homenagem ás Vítimas da Vila Socó

 

Reportagem Afropress: www.afropress.com

Cubatão/SP – A Comissão da Verdade da OAB/Cubatão constituída em 2014 e reeditada no ano passado por portaria do atual presidente da subseção Antonio Sarraino, para acompanhar as investigações do caso do incêndio da Vila Socó, em que morreram entre 508 e 700 pessoas, de acordo com investigações do Ministério Público, à época, realizará ato ecumênico e sessão solene para lembrar os mortos na tragédia e manter viva a luta pela verdade e por Justiça na data que marca os 40 anos do incêndio – o dia 25 de fevereiro.

A Comissão formada pelos advogados André Simões Louro, Dojival Vieira  e Luiz Marcelo Moreira, foi constituída para investigar a “Operação abafa” desencadeada pelo governo militar (à época, o país ainda vivia sob ditadura e Cubatão foi declarada Área de Segurança Nacional pelo regime) para reduzir o número de mortos na tragédia e garantir a impunidade dos responsáveis, e teve papel decisivo para impedir que os autos do processo físico que estavam a caminho de incineração pelo Tribunal de Justiça de S. Paulo, fôssem preservados e digitalizados

ATO ECUMÊNICO E MINUTO DE SILÊNCIO

A programação começa às 9h da manhã, no Centro Comunitário da Vila São José (Socó), com um ato ecumênico, com a presença de autoridades religiosas das Igrejas Católica, Evangélica e líderes de outras religiões que lembrarão os mortos na tragédia e a importância da luta por Justiça. O ato será encerrado com um minuto de silêncio em memória dos mortos – homens, mulheres e crianças, na sua maioria negras e pobres, na sua quase totalidade filhos e filhas de migrantes nordestinos.

Depois da cerimônia, os membros da Comissão se dirigirão ao marco, que registra os nomes das 93 mortes reconhecidas oficialmente para depositar uma coroa de flores. Os moradores sobreviventes jamais reconheram o número oficial de vítimas e a Comissão da Verdade se baseia nas investigações do Ministério Público comandadas, à época, pelos promotores Marcos Ribeiro de Freitas e José Carlos Pedreira Passos – esté último já falecido.

Nas investigações, os promotores trabalharam com três hipóteses em relação ao número de vítimas: a primeira é que teriam morrido 508 pessoas, 86 óbitos documentados, com encontro de cadáver, mais um número estimado de 300 crianças de zero a três anos de idade, mais 122 crianças de 3 a 6 anos; a segunda, 631 mortos, considerando-se os 86 óbitos documentados, mais as 300 crianças de zero a três anos, além de 245 crianças de 3 a 6 anos, que continuam desaparecidas; e a terceira hipótese, contabiliza, além das crianças de zero a seis anos, tomadas em conjunto, um número não determinado de adultos, além dos 86 localizados, o que elevaria para mais de 700 pessoas o número de vítimas.

SESSÃO SOLENE

No dia 26/02, segundad feira, haverá sessão solene às 17h, no auditório da OAB/Cubatão, com a presença de sobreviventes e de lideranças políticas e comunitárias. “Minha expectativa, é de que a gente consiga fazer com que essa verdade prevaleça, de que a gente tenha como chegar ao número mais próximo das vidas que foram perdidas, que esse documento histórico – os 22 volumes que fazem parte do processo –  receba o devido acolhimento e tenha um lugar para que as pessoas possam , possam visitá-lo, possam estudá-lo como muitas pessoas vem fazendo, como alguns grupos de estudos nos procuraram nesse período para saber o trabalho da comissão a fim de investigar o papel da Petrobrás na época da ditadura militar, ou para investigar especificamente a tragédia, ou para a finalidade específica de, enfim, contar a verdade, do que foi essa tragédia que abateu, abalou e abala a sociedade cubatente, até os dias de hoje, quarenta anos passados”, afirma Simões Louro, que preside a Comissão.

Ele destaca o papel da Comissão da Verdade da OAB formada em 2014, por ocasião dos 30 anos da tragédia, agora reeditada, responsável pelo trabalho de resgate da memória histórica, mas também por um esforço visando a apuração e a investigação dos fatose, desenvolvido em parceria com a Comissão da Verdade Rubens Paiva, da Assembléia Legislativa de S. Paulo, presidida pelo então deputado Adriano Diogo.

Simões Louro lembrou que foi graças a esse trabalho de apuração que, no plano local, contou com o apoio dos então vereadores Wagner e Fábio Moura, que foi possível ouvir jornalistas que cobriram o incêndio como Tonico Ferreira, da TV Globo, técnicos que apontaram o estado precário das tubulações e a quantidade de gasolina vazada, como Jorge Sérgio Moreira, e bombeiros que participaram do trabalho de rescaldo e testemunharam que até restos de seis corpos de vítimas foram jogados nos caixões de lata. Foi também graças ao trabalho da Comissão que foi possível ouvir, depois de 30 anos, o então presidente da Petrobrás, Shigeaki Ueki.

Ueki, o primeiro presidente civil da estatal após 1.964, foi sabatinado na Assembléia Legislativa de S. Paulo, sem conseguir explicar as denúncias de que a Petrobrás e o governo municipal nomeado (a época, Cubatão não podia eleger o prefeito) foram negligentes, tanto antes quanto depois do incêndio. “Com esse trabalho de investigação e de apuração pudemos ter a certeza de que não foram apenas as 93 vidas perdidas, mas muito mais, provavelmente, entre os números de 508 e 700, apontados em relatórios do Ministério Público”, enfatiza Simões Louro

Veja a Programação:

VILA SÃO JOSÉ (SOCÓ): OS 40 ANOS DE UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA

DIA 25/02 - 9H

ATO ECUMÊNICO EM MEMÓRIA DOS MORTOS
LOCAL: CENTRO COMUNITÁRIO DA VILA SÃO JOSÉ

10H30 - COLOCAÇÃO DE COROA DE FLORES NO MARCO COM OS NOMES DE VÍTIMAS

DIA 26/02 - 17H
SESSÃO SOLENE POR MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA

LOCAL: AUDITÓRIO DA OAB/CUBATÃO - RUA S. PAULO, 260 - JARDIM S. FRANCISCO

PROMOÇÃO: COMISSÃO DA VERDADE DA OAB/CUBATÃO PARA INVESTIGAR A OPERAÇÃO ABAFA NO CASO DO INCÊNDIO